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Russian Roulette: Parte 03

Conhece este conto e lê as partes anteriores em Russian Roulette.
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Três dias antes
Passei o dia anterior num dilema entre ligar ou não ao Jack, optei por não o fazer, ele também não me disse nada, não queria acreditar que tudo não passara de uma brilhante manipulação, ele era igual ou pior que o Frank, chorei muito.
Estava sentado na minha cama, com as pernas cruzadas, a pensar em tudo o que me acontecera nestes últimos dias, tinha chegado à conclusão que se o Frank e os amigos me fizeram aquilo é porque eu tinha merecido, era um falhado, um lixo, um monte de merda que só merecia sofrer.
Estava sozinho, sem amigos, seria a vergonha do meu pai caso soubessem que eu gostava de rapazes, era a primeira vez que me sentia realmente perdido, não fazia sentido continuar por aqui, não faria falta a ninguém, então tomei uma decisão.
Levantei-me, fui até à secretária, peguei numa folha e escrevi uma carta de despedida ao meu pai, “Olá papá, lembras-te quando te chamava assim? Desculpa não ter aguentado, não ter sido um orgulho para ti, fui a vergonha desta família, a mãe morreu e tu foste o meu pilar durante todo este tempo, sei que não foi fácil para ti aguentar, mas ficaste sempre de cabeça erguida ao meu lado, eu sim tenho orgulho em ti. Por favor sê forte, pensa que agora estou finalmente em paz, agora estou em descanso. E por favor desculpa-me. Estarei sempre aqui a olhar por ti. És um grande homem, nunca te esqueças disso. Não procures vinganças ou ajustes de contas, a vida é assim, o meu destino já estava traçado. Obrigado por tudo, agora vou ter com a mãe, prometo que ficaremos os dois lá em cima a olhar por ti. Perdoa-me, por favor … Um beijinho.”, dobrei a folha e fui colocá-la em cima da cama do meu pai.
Deambulei pela casa despedindo-me e recordando tudo o que ali vivera, os natais ainda com a minha mãe, as festas de aniversário, as partidas e chegadas das viagens, as lágrimas ameaçavam cair novamente. 
Por morar num prédio a minha fuga para a morte seria atirar-me pela janela, abri-a, o vento bateu-me no rosto, olhei para baixo, não tinha vertigens, mas ao lembrar-me o que ia fazer fez o meu coração bater mais rápido, eram cinco andares, não sabia se iria doer ou não, mas a dor era algo que eu já estava habituado. Coloquei um pé no parapeito e quando me ia içar a campainha tocou insistentemente, assustei-me, voltei atrás e fechei a janela, quando abri a porta vi-a ali, era a Beth. Estava confuso, de repente ela empurra-me para dentro e beija-me, deixei-me levar apesar de não sentir nada.
Arrancou-me a camisola, tocou-me na barriga, eu percorria as mãos pelo seu corpo, puxei-lhe também a camisola de alças, mordeu-me o pescoço, arrepiei-me, ela afastou-se e perguntou-me onde era o meu quarto, apontei e ela voltou-me a beijar, apesar de não sentir nada, não a parei, agarrou-me e empurrou-me até ao quarto, abri a porta entre alguns amassos, caímos sobre a cama, rebolámos e ela ficou por cima de mim, olhei-a nos olhos, mordeu o lábio, devia sentir alguma tesão mas nada, levou as mãos até às minhas calças e puxou-as, estava apenas de boxers, deu-me outro beijo enquanto eu pensava no que fazer a seguir, achei que lhe devia tirar o soutien, apesar de não sentir qualquer atração não podia negar que era uma rapariga bonita.
Depois de acontecer aquilo que todos os jovens querem nesta idade, uma foda, ficámos deitados lado a lado, sentia-me um cabrão por a estar a usar, no entanto deixei-me ficar, ela sorria com os olhos, quando olhou para o relógio que tenho na mesa de cabeceira, levantou-se rapidamente, estava atrasada para algo, vestiu-se, beijou-me novamente e saiu.
Tinha acabado de estar pela primeira vez com uma rapariga, já não era virgem, vários pensamentos ocupavam-me a cabeça, de repente surgiu o Jack, aquela pessoa que eu verdadeiramente desejava, mas não podia ter, o rapaz que me tinha usado e ferido muito mais que todos os outros. Antes te partir ainda tinha assuntos para esclarecer, vesti-me, fui ao quarto do meu pai buscar a carta e depois guardei-a.
Estava a lanchar, na sala, quando recebi uma chamada do meu pai para saber como estava e se precisava de alguma coisa, quando lhe disse que não, revelou-me que tinha de fazer uma viagem urgente e que ficaria fora três dias, desejei-lhe boa viagem, prometeu que ficaria em contacto, mas que ainda passaria por casa para se despedir e arranjar a mala. 
Eram onze da noite, o meu pai já se tinha ido embora, quando a campainha tocou, não havia ninguém lá em baixo, espreitei pela porta e imediatamente reconheci aquele cabelo ruivo, era o Jack. Ponderei se abria ou não a porta, a emoção falou mais alto que a razão.
Abri a porta, ele levantou a cabeça e eu fiquei em choque com o que vi, a sua cara estava coberta de sangue, tinha alguns golpes nos braços, no pescoço havia uma pequena cicatriz que agoniava, ele estava quase a desmaiar, aproximei-me dele e levei-o para o meu quarto, ele precisava de ajuda.


Dois dias antes
Acordei com o toque da campainha, estava deitado na minha cama com o Jack, não tinha acontecido nada, simplesmente me deixara dormir, levantei-me e fui abrir, era a Beth, não a deixei entrar, disse que estava ocupado e que ia sair, ela deu-me um beijo e saiu, não queria falar com ela naquele momento.
Quando me virei vi o Jack a olhar para mim, apesar dos curativos que lhe tinha feito na noite passada via-se que estava magoado.
- Que merda é que acabou de acontecer aqui? – Perguntou exaltado.
- Han? – Perguntei confuso. – Como assim? – Não estava a entender.
- Tu e a Beth deram um beijo! – Disse ele friamente. – Posso estar ferido, mas não estou cego? – Não estava a compreender a reação dele.
Aquilo tinha chegado ao limite - Sim e depois o que tens a ver com isso? – Questionei aos berros. – Tu também só me ajudaste porque estavas feito com o Frank! – Disse irritado. Ele calou-se e ficou a olhar para mim. – A Beth disse-me que vos viu aos dois a rir no bar e que estão a organizar uma festa.
- Eu bem suspeitava que essa puta andava a fazer das suas! Ela é a cadela da Amy, faz tudo o que esta lhe pede. – Respondeu enervado. Fiquei em silêncio, não sabia o que dizer. – Mas … sabes o que me magoa? Depois de tudo o que fiz por ti, duvidares de mim. – Estava ofendido. – Sabes porque estou neste estado? – Perguntou encarando-me nos olhos, ia responder, mas ele continuou. – Porque te defendi, porque não deixei que partilhassem o vídeo. Não esperava que duvidasses de mim! – Fiquei envergonhado e arrependido de tudo o que tinha pensado, ele tinha sido a minha salvação.
- Tens razão ... – Olhei para o chão. – Desculpa-me! – Pedi sinceramente.
- Obrigado por me teres ajudado ontem, agora vou-me embora! – Afirmou friamente.
- Fica, por favor! – Implorei. – Eu sou um idiota.
Virou-me as costas e foi ao quarto buscar o casaco, corri atrás dele pedindo-lhe para ficar, abriu a porta da rua, antes dele partir ainda lhe disse que estava a gostar muito da sua companhia, que sempre sentira um interesse por ele. Os seus olhos fixaram-se nos meus.
- Agora é tarde! – Voltou-me as costas e fechou a porta.
Caí no chão a chorar, perdi-me em várias interpretações daquela resposta, fiquei assim o dia inteiro encostado à porta a chorar, não tinha comido nada, precisava de espairecer, não aguentava ficar naquela casa mais tempo, tinha de sair, esquecer. Fui para o quarto, peguei no meu casaco de cabedal, estava todo de preto, depois saí.
Tinha anoitecido, estava frio, a pé dirigi-me para um restaurante de comida rápida, pedi um menu médio e jantei numa das mesas, sozinho, era o único sem companhia naquele espaço, aquele ambiente estava-me a sufocar.
Saí e fui a pé para uma discoteca gay, ali ia curtir a noite sem olhares discriminatórios, entrei e fui logo para o bar, pedi a bebida mais forte que tinham, não perguntei o que era, mas repeti mais duas vezes. Eu que não estava habituado a beber, já estava a sentir os efeitos no meu corpo, as músicas das divas da pop tocavam em alto e bom som, fui passando até chegar ao meio da pista e dançar como se não houvesse amanhã, senti algumas mãos a tocarem-me, não me importei, estavam a olhar para mim, fechei os olhos e abanei ainda mais o corpo.
A música mudou e voltei ao bar para beber mais alguma coisa forte, o empregado sorriu-me, eu retribui, deu-me a bebida e piscou-me o olho, depois disse-me alguma coisa que não percebi e debrucei-me sobre o balcão para o ouvir, ele encostou-me a boca ao ouvido, senti a sua respiração, arrepiei-me.
- És um gato! – Depois mordeu-me o lóbulo da orelha. Agradeci e voltei para a pista.
A música estava muito boa, fiquei lá um bom bocado, não me lembro de muito, tive de ir à casa de banho, precisava de mijar. Estava a lavar as mãos quando senti umas mãos agarrem-me a barriga e uns lábios percorrem-me o pescoço, senti o seu pénis pressionando-me, eu faria tudo naquela noite. 
Nesse momento uma terceira pessoa apareceu, puxou o homem que me tocava.
- Ele está comigo. Arranja outro! – Os meus olhos estavam quase fechados, mas parecia-me o Jack, não conseguia perceber.

Algum momento inesperado? O que irá acontecer na próxima parte?

Diogo Pereira Mota

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