Marcelo Frota, mais conhecido por Momo, trinta e oito anos, músico brasileiro, lançou recentemente o seu quinto álbum intitulado Voá em parceria com a Universal Music Portugal.
Momo escreve e retrata a vida como poucos, transmite uma energia muito positiva que nos deixa serenos. Um viajante do mundo que guarda dentro de si toda uma experiência de vida que merece ser partilhada. Simpático, carismático e com uma grande visão do Mundo, fiquem a conhecer fragmentos desta vida ...
Momo escreve e retrata a vida como poucos, transmite uma energia muito positiva que nos deixa serenos. Um viajante do mundo que guarda dentro de si toda uma experiência de vida que merece ser partilhada. Simpático, carismático e com uma grande visão do Mundo, fiquem a conhecer fragmentos desta vida ...
Playlist da entrevista:
Qual a sua palavra favorita?
Amor. Porquê? Porque eu acho que o amor é que deveria reger o mundo e em tempos estranhos eu acho que é isso que a gente precisaria. O amor une as pessoas, hoje o movimento é contrário, separar, distinguir umas das outras, o amor é união.
Qual a música que define a sua vida?
Olha, é difícil, muito difícil, pode ser mais de uma? Sim … A flor e o Espinho de Nélson Cavaquinho, um compositor de samba que eu gosto muito, provavelmente alguma música do Nirvana, não sei qual, gosto também da Long and Winding Road dos Beatles, mas não sei se definiria a minha vida. Provavelmente muitas músicas do Dorival Caymmi, do disco Canções Praieiras.
O que sente quando canta?
Quando eu canto, sinto que a vida faz sentido, que realmente vale a pena. Quando estou ali no palco, sinto que fiz a escolha certa da minha vida.
Como correram os espetáculos que deu recentemente?
Foram bons, me apresentei num formato mais violão, que não é a formação do disco, o disco é muito mais cheio, mas é sempre bom estar no palco, criar com o público essa troca, essa interação, é sempre um grande aprendizado e voltando ao amor, é uma troca de energias, de corações, foi muito bom. Eu já conheço o público português porque fiz muitos shows antes de lançar o disco, fiz mais de vinte shows por Portugal, viajei bastante desde que cheguei aqui, é um público muito carinhoso, muito respeitoso. Consegue escolher o melhor? O melhor público é o daquele dia, daquele show, é sempre bom, às vezes menos caloroso ou mais, mas aí a gente sempre tenta encontrar um jeito, algum elo, alguma coisa que nos ligue ao público. Fiz agora um show em Ponte de Lima, foi muito especial, foi o dia do meu aniversário, quando comecei a segunda música falei para o público “Hoje é o meu aniversário, estou muito feliz”, eles cantaram o Parabéns para você inteiro, então não é o melhor público, mas realmente ficou marcado. O melhor público é aquele do show que ainda não veio e está por vir.
A reação do público ao seu novo álbum, Voá, tem sido a que esperava ou melhor?
Nos shows ou no geral? No geral … A opinião que recebe. Eu acho que está indo bem, esse disco representa uma mudança em termos de sonoridade do disco, este é mais solar, um disco com uma luz diferente dos outros, não é que os outros não fossem discos com uma luz própria, mas eu acho que a gente tem conseguido receber elogios, tenho sentido que as coisas ainda estão acontecendo, é muito recente. Sei que hoje duas semanas já é um passado distante, mas na música ela sempre vai ser escutada, ouvida com o tempo, acho que as coisas são entendidas nesse perfil.
Como foi trabalhar com Marcelo Camelo?
Foi maravilhoso, foi mágico, o Marcelo trouxe uma atmosfera, um outro colorido na minha música, me mostrou outros caminhos possíveis dentro da música, onde as possibilidades são infinitas, foi um encontro muito feliz, me orgulho muito de ter feito esse disco, o resultado é muito interessante, foi uma troca muito rica.
Como surgiu esta parceria com a Universal Music Portugal?
Quem trouxe o disco aqui foram os meus managers, eles é que trouxeram o disco para a Universal e aí a gente conseguiu fechar esse contrato.
O que sente quando ouve o elogio de Camané, “Momo é já um músico português e este disco é uma descoberta que fica para a vida”?
Fico lisonjeado, fico muito feliz em ouvir isso, nunca ouvi ninguém cantar como o Camané na minha vida, é um privilégio ter ele como amigo, ele foi uma pessoa que me recebeu aqui em Lisboa, ele é responsável pelo acontecimento deste disco também, me incentivou muito a ficar aqui em Lisboa, a gravar o disco, escutou o repertório do disco quando estava sendo feito, para mim é o maior cantor que eu já ouvi, sem dúvidas, para mim é um estímulo, são essas coisas que vão alimentando o fazer artístico.
Voá é o seu quinto álbum! O que mudou desde o primeiro?
Na verdade, mudou muita coisa, mas o que não mudou é essa vontade de continuar a fazer música, de criar, de me lançar em novos desafios, de me colocar em situações não muito confortáveis para poder aprender, para poder ressignificar as coisas, cada disco conta uma história, cada disco é um recomeço de alguma coisa. Então o que mudou é que acho que sou uma pessoa mais experiente, sinto que o meu canto mudou, o meu jeito de cantar mudou entre cada disco, mas o que não mudou foi o entusiasmo, essa paixão de continuar fazendo música, essa vontade não vai sair de mim, quero continuar fazendo e me colocando em novas situações, novos discos, novos parceiros.
Com que artista gostaria de fazer uma colaboração?
Gostaria muito de ouvir uma música minha cantada pela Ana Moura e fazer alguma coisa com a Patti Smith que publicou a minha música há uns anos atrás, publicou no Facebook dela uma canção minha, dizendo que tinha adorado aquela música. Gostaria de fazer alguma coisa com ela também.
Existe alguma diferença entre o artista Momo e a pessoa Marcelo Frota?
É não deixar que uma coisa interfira … O Momo quando eu criei era um nome artístico, não era uma capa protetora, mas era um lugar onde eu pudesse falar de algumas coisas, expressar sentimentos, não é sem ser o Marcelo (riso). É tipo um alter ego, mas eu não sei até que ponto hoje em dia, é difícil separar um pouco as coisas, acho que trago muito do meu dia a dia, trago muito do Marcelo para o Momo e para as letras, acho que são a mesma pessoa, em alguns momentos diferentes, mas eu acho que é isso. Complexa essa pergunta, mas interessante … Sou uma pessoa que está sempre tentando valorizar as coisas do dia a dia na minha vida, as coisas que são mais mundanas, como por exemplo, fazer as coisas de casa, sair, pegar um autocarro, brincar com os meus enteados, esse lado eu gosto muito, às vezes esquecer do artista.
Qual a pior parte em ser artista?
Não tem um lado pior, mas a vida não é um palco o tempo inteiro. A gente às vezes brinca, lá no Rio temos a expressão “Desce do palco amigo.”, então muitas vezes eu falo para mim, a vida é real, não dá para estar no palco e ser artista todo o dia. Precisa de descer muitas vezes do palco? Eu acho que não, sou uma pessoa simples, de fácil conversa, comunicação, eu acho que não. Tenho a noção nítida de que quando estou no palco sou uma coisa e depois é outra coisa, eu não acho que a vida seja uma extensão do palco, aquilo ali, estou falando do show, tem um momento curto, mágico e de muita luz, fora isso saber lidar com as coisas do dia a dia acho que é isso que me alegra, tentar que uma coisa não interferir na outra, gosto mesmo é de andar por aí, conversar com as pessoas. Sou uma pessoa com o peito muito aberto, muito disposta a conhecer, a trocar, vejo mais ou menos por aí. A vida não dá para viver no palco eternamente.
Viveu em Angola, Estados Unidos, Espanha e agora Portugal. Como é que estas experiências o construíram enquanto pessoa e músico?
Eu sempre falo que é difícil medir de forma racional quanto me influenciei na música americana, mas com certeza sim, eu acho que mais do que isso, são as experiências de vida, fecho os olhos e consigo lembrar de paisagens que vi, cada desses países em que morei , que vivi, muitas vezes sinto o cheiro, me vem na memória olfativa desses lugares e me transporto para esses lugares, a minha infância, adolescência, acho que isso me torna uma pessoa com um tipo de experiência, bagagem, mas acho que isso também vai de uma certa forma contribuir para o meu saber artístico, não tem como, fica tudo aqui, como uma psicanálise. Diz-se que desde cedo a criança já recebe esses estímulos, muita coisa ficou aqui, muita coisa está em mim, sou um produto de tudo isso daí que foi vivido e me sinto uma pessoa, como vocês falam aqui, pirosa, cidadão do mundo, sou de todos os lugares, primeiro eu vivo dentro de mim, a minha casa sou eu mesmo, essa é uma coisa que eu aprendi
No último álbum, Voá tem uma música que se chama Alfama. O que sente por Alfama? E a que cheira?
É muito amor, chego ali e os meus olhos começam a brilhar, quando eu chego no Largo de São Miguel e vou até lá acima ao Largo de Santo Estevão, a Feira da Ladra, falo com inúmeras pessoas, cumprimento um monte de gente, mas eu tenho um amor muito especial por Alfama, porque foi um bairro que me abraçou, que me acolheu, estendo isso a Portugal e a Lisboa, ali tive uma vida muito bacana, muito criativa, de muita troca, de muitos encontros bonitos e Alfama cheira a diversidade, cheira a música, poesia. É um bairro muito fotogénico, cada rua é um cartão postal, é um frame de um filme, cada rua para mim tem um poder, tem uma energia que está em cada um dos moradores, em cada uma daquelas construções antigas, das ruas, a maneira de falar, acho que é isso.
Porquê apostar em Portugal para lançar um novo álbum e não no Brasil?
Essa minha vinda foi uma coisa que foi sendo revelada, foi caminhando sem muita expectativa, vim aqui para fazer sete ou dez shows, acabou acontecendo mais shows, o meu agente conseguiu marcar mais e o disco foi sendo feito e eu fui ficando, me apaixonei pela cidade, foi uma aposta de estar numa cidade bonita, que eu já tinha estado, tinha estado em 2013, com um projeto que se chama “Clube” com Fred Ferreira, Bernardo Barata dos Diabo na Cruz e com alguns músicos brasileiros, já tinha gostado muito da cidade, então já tinha estado aqui, tinha gostado, mas nunca imaginei que ia morar aqui esse tempo. Tive essa intuição que seria bom vir para cá passar um tempo, tinha um prazo de validade de três meses, mas as coisas foram rolando de uma forma inesperada e eu resolvi ficar. E planos para o futuro? Tocar o disco, fazer shows, tocar cada vez mais, chegar cada vez mais no ouvido das pessoas, no ouvinte. Essencialmente em Portugal ou também pelo Mundo? Acho que também pelo Mundo pelo facto de ter passado nos Estados Unidos, já fiz lá umas três tournées, sou do Brasil, grande parte da minha história musical está lá, Portugal claro e porque não Europa? Mas vamos ver como isso se encaixa, dá para levar para cada um desses lugares um pouquinho desse amor, desse sentimento, acho que seria fantástico.
Qual a sua viagem de sonho?
É a viagem eterna, a viagem espiritual, aprender mais comigo, descobrir mais coisas em mim, tem muitas coisas para ser trabalhado e revelado, é isso, essa viagem eterna. Os meus discos anteriores são muito existencialistas, a arte para mim tem um pouco essa missão, é um aprendizado, eu me conheço cada vez mais na feitura dos discos, quando estou escrevendo. A viagem dos sonhos é continuar nessa busca interna.
Qual é o seu lema de vida?
Acho que é como a gente começou a entrevista, poder aprender cada vez mais, trocar com as pessoas, receber e dar amor, acho que seria isso. Continuar forte, vejo a música e a arte como uma missão. Quem escolhe ser artista, na verdade eu não escolhi, foi a música que me escolheu, quando vi já estava dentro, eu não fiz uma escolha “Vou ser músico!” a música me pegou de um jeito que quando vi já estava dentro, fui escolhido por ela, então vejo isso como uma missão, tem um certo romantismo em torno disso. Como lema é dar e recebendo carinho, busco sempre o ponto de convergência, não o de separação, é isso que procuro nas pessoas, continuar a ir atrás do que nos une e não do que nos separa, buscar o ponto de comunhão com as pessoas e com o Mundo. Também tenho a noção que sou apenas mais uma partícula nesse Mundo gigantesco que vive sem a minha existência, mas ao mesmo tempo acho que o artista é capaz de trazer alguma importância, todos temos uma importância, seja social, ética. Estou me colocando numa forma de viver a vida, de uma forma simples. Menos glamour e mais realidade!
O que quer o seu coração?
(Riso) Quer ser amado! Quer ser amado e amar também. (Riso) Mas é aquela coisa que está numa oração “dar sem precisar receber”, dar o amor sem esperar em troca. Claro que todo o mundo gosta de ser amado, mas eu quero cada vez amar mais. Dizem que quando o amor é verdadeiro ele não cobra, mas claro que o nosso coração quer ser amado, mas eu quero amar cada vez mais.
Resta-me agradecer ao Marcelo por ter respondido de uma forma tão honesta a todas as perguntas e à Universal Music Portugal por me ter dado esta oportunidade. Muito obrigado.
Sem comentários:
Enviar um comentário