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Russian Roulette: Parte 05 (Fim)

Conhece este conto e lê as partes anteriores em Russian Roulette.
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O dia seguinte 
Acordei deitado sobre o peito do Jack que dormia profundamente, nem queria acreditar que aquilo me estava a acontecer, o rapaz por quem estivera atraído durante tanto tempo encontrava-se na minha cama. Coloquei a mão sobre a sua barriga e acariciei os seus abdominais, estávamos apenas de boxers apesar de não ter acontecido nada durante a noite. Acordei-o sem querer, passou a sua mão pelas minhas costas deixando-me arrepiado. 
- Bom dia … - Cumprimentou-me com a sua voz rouca matinal e um beijo na cabeça. – Como estás? – Perguntou, enquanto eu me sentava na cama para ficar de frente para ele. 
- Olá, estou bem e tu? – Respondi com um sorriso. 
- Podia estar melhor! – Não compreendi a resposta e franzi a sobrancelha. Ele entendeu. – Estaria perfeito se me desses um beijo … - Não esperava aquela resposta, mas dei-lhe um beijo demorado. 
O meu corpo encostou-se ao dele, rebolámos na cama e acabou em cima de mim, bateram à porta, lembrei-me que o meu pai tinha chegado nessa noite, o Jack saiu e deitou-se ao meu lado tapando-nos. Quando abriu a porta e nos viu na cama esboçou um sorriso e perguntou se queríamos tomar o pequeno-almoço. 
- Bom dia pai … O Jack ficou … a … ele está aqui … bem, porque … - Não sabia o que dizer, que explicação dar para estar deitado com o Jack, ainda por cima seminus. 
- Eu não te pedi nenhuma explicação! – Disse o meu pai rindo. – Só quero saber se querem comer. 
- Bom dia senhor! – Saudou Jack respeitosamente. 
- Bom dia rapaz, temos aqui um problema. – Afirmou o meu pai muito sério. O Jack ficou aflito e questionou qual era. – O senhor está no céu, eu sou o Ethan! – Sorriu. 
Nesse momento comecei a rir da improbabilidade daquilo estar a acontecer, ambos ficaram a olhar para mim. Confirmei que íamos comer, o meu pai saiu fechando a porta. 
Enquanto nos vestíamos disse ao Jack que queria ir ao funeral da Amy, ele não compreendeu o motivo, depois de todo o mal que ela me fizera, como é que eu era capaz de me ir despedir. 
Durante o pequeno-almoço contei ao meu pai o que tinha acontecido, ocultando um pormenor ou outro como a tentativa de suicídio, ficou preocupado connosco e só descansou depois de confirmar pela terceira vez se estávamos mesmo bem. 
Olhei para as horas, já não faltava muito tempo, o Jack decidiu acompanhar-me, não me deixou ir sozinho, não queria que eu fosse abordado pelo grupo do Frank. 
Entrámos no cemitério, lado a lado, tinha comprado uma rosa branca para deixar no caixão, deslocámo-nos até ao local, estavam lá imensas pessoas, o facto da Amy ser popular sempre lhe deu a vantagem de se dar com toda a gente. Entre a audiência encontrava-se o grupo do Frank que nos olhou de lado, mas não disse nada. Deixei a rosa e resolvi vir-me embora, senti que apesar de tudo tinha feito o que era correto. 
Resolvemos ir dar uma volta os dois por um jardim, estava estranho, não dizia nada, quando olhei para ele parecia ausente, chamei-o e perguntei o que tinha. 
- Não te quero preocupar David! – Disse ele sorrindo. 
- Eu preocupo-me contigo. – Respondi. – Se eu gosto de uma pessoa, quero o bem dela. 
- Sou apenas uma pessoa? – Questionou sorrindo de lado. 
- Existem pessoas e pessoas … mas não fujas ao assunto. Conta-me, por favor. – Pedi. 
- A minha família não sabe que sou bissexual, tenho medo da reação deles. – Revelou-me. – Desculpa, não te ter contado isto mais cedo. 
- Eu entendo, não te julgo nem vou fugir. – Abracei-o. – Cada um tem o seu tempo! 
Depois de uma longa conversa, por iniciativa própria, decidiu ir falar com os pais, eu resolvi esperar por ele num café perto da sua casa para saber as novidades. Enquanto aguardava resolvi ligar ao meu pai a explicar a situação e para saber o que ele achava do Jack, ouvi o que esperava e fiquei feliz quando ele disse que o ajudaria no que pudesse caso fosse necessário. 
Passou aproximadamente uma hora e meia quando o vi a aproximar-se com duas malas de viagem, uma mochila e lágrimas na cara, corri para ele. 
- O que aconteceu? – Ele largou as coisas e abraçou-me chorando. Nunca o tinha visto assim. – Jack, para por favor. Foi assim tão mau? – Estava a ficar preocupado, indiretamente a culpa era minha. 
- Os meus pais expulsaram-me de casa … - Soluçou. – Eles chamaram-me nojento, verme, doente mental e até desejaram a minha morte. – Respirou fundo. - Não esperava que fossem reagir assim. 
Depois de o acalmar, disse-lhe para irmos até minha casa para descansar um pouco, ele cedeu. Quando chegámos, o meu pai estava na sala a ver um bailado, colocou em pausa e quis saber o que tinha acontecido, o Jack contou-lhe tudo. 
- E tens família com quem ficar, rapaz? – Perguntou o meu pai preocupado. 
- Cá não, moram todos no estrangeiro! Mas não acredito que me recebam, os meus pais vão encher-lhes as cabeças. – Constatou Jack tristemente. 
- E o que vais fazer agora? – Quis saber o meu pai. 
- Tenho algumas poupanças, vou alugar um quarto e arranjar um emprego a full-time. Eu não me quero ir embora! – Afirmou, dando-me a mão. 
- Mas e os estudos? A faculdade? – Perguntei preocupado. 
- Vou ter de cancelar a inscrição ao curso de Desporto, preciso de trabalhar David. – Disse tristemente. 
- Tenho um plano melhor! – Começou o meu pai. – Ficas aqui em nossa casa, vais para a faculdade, pago-te o curso e pronto. – Colmatou a ideia. 
- Muito obrigado Ethan, mas eu não posso aceitar toda essa generosidade. – Respondeu Jack agradecido. 
- Podes e deves! Eu não me esqueço que foste tu que salvaste o David. – Relembrou o meu pai. – E felizmente tenho muito dinheiro, portanto não me custa nada ajudar-te. 
- Fica, por favor. – Pedi. 
Após muita insistência lá aceitou a proposta, mas disse que iria arranjar um part-time para contribuir nas despesas, o meu pai torceu o nariz, porém acabou por concordar só para ele ficar lá em casa. Iriamos ficar no mesmo quarto, a sugestão tinha sido do meu pai, não esperava que este tivesse a mente tão aberta, fiquei-lhe eternamente grato. 
Depois de todas as coisas resolvidas e arrumadas o meu pai teve de sair, fiquei sozinho em casa com o Jack. Abraçou-me e foi-me beijando o pescoço, o ambiente começou a aquecer, mas ele parou. 
- Eu sei que isto está tudo a ir rápido demais, mas eu amo-te, desde o primeiro dia em que te vi, é o chamado amor à primeira vista. – Fiquei envergonhado ao ouvi-lo a declarar-se. – E agora que sei que o sentimento é mútuo tenho uma coisa para te perguntar. – Ele estava nervoso, conhecia bem as suas emoções. 
- Estás a passar-me o teu nervosismo, pergunta logo. – Ri-me. 
- David, aceitas … queres namorar comigo? – Perguntou olhando-me diretamente nos olhos. 
- É claro que sim! – Respondi quase gritando, depois puxei-o para mim e beijei-o. 
A seguir pegou-me ao colo, enrolei as pernas na cintura dele, as suas mãos seguravam-me pelo rabo, levou-me para a cama e começou a tirar-me a camisola entre beijos. Pela primeira vez entregamo-nos um nos braços do outro. Naquele momento não fiz sexo, mas sim amor com o meu homem. 


Epílogo 
Passaram quinze anos desde aquele dia do funeral da Amy e muito aconteceu na minha vida e na das pessoas que me rodeavam. 
A Beth depois de ter passado alguns anos na prisão, saiu em liberdade mais cedo por bom comportamento e mudou-se para o estrangeiro. Ironicamente, o Frank morreu com VIH, depois de se assumir gay esteve com vários homens sem usar preservativo, pelo menos foi a informação que se espalhou por aqui. O meu pai, felizmente, encontrou um novo amor e está neste momento num cruzeiro pelo mundo na sua lua-de-mel. Tristemente o Jack nunca mais falou com a família, mas tornou-se um importante futebolista, ganhando vários prémios. 
Numa das cerimónias, quando subiu ao palco para agradecer, deixou-me a chorar quando reconheceu publicamente tudo o que eu e o meu pai fizemos por ele. 
Eu tornei-me num autor bestseller com oito livros publicados e traduzidos para vários idiomas, mas também fundei uma organização, reconhecida a nível mundial, que apoia todos aqueles que sejam vítimas de preconceito. 
Eu e o meu eterno amor continuamos juntos, casados, com casa própria e dois filhos gémeos adotados, o James e o Derek, cada um com a inicial dos nossos nomes. 
Hoje sou feliz e vejo que tudo acontece por uma razão, mas no fim o amor vence sempre. 



Uma pessoa acaba por se transformar naquilo que vê nos olhos de quem deseja. 

ZAFÓN, Carlos Ruiz 


FIM


Termina assim este conto. O que acharam?

Diogo Pereira Mota

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