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Russian Roulette: Parte 04

Conhece este conto e lê as partes anteriores em Russian Roulette.
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Um dia antes
Acordei no meu quarto, não me lembrava como tinha ido ali parar, doía-me a cabeça, a luz incomodava-me os olhos, o corpo estava pesado e para ajudar tinha uma ligeira má disposição. Olhei para o relógio, já passava da hora de almoço, peguei no telemóvel e liguei a internet, recebi duas notificações de mensagem, uma do Jack onde me chamava irresponsável por ter bebido sozinho e outra do monstro, o Frank. “Estarei em tua casa às 16h! Abre a porta e não digas nada a ninguém, senão quem sofre é o Jack, já viste o que lhe aconteceu … Posso fazer pior!”, o medo apoderou-se de mim, faltava uma hora para ele chegar, pensei se dizia alguma coisa ou não ao Jack, optei por não contar, ele não merecia ser chateado com os meus problemas, para além de já não querer saber de mim.
Se fosse para morrer, este seria o momento, estava sozinho, sem nada nem ninguém que se importasse comigo. Levantei-me e fui à casa de banho buscar um comprimido para as dores de cabeça, depois dirigi-me à cozinha onde comi uma fatia de bolo, enchi o copo com água e engoli o analgésico, a seguir fui para o quarto vestir-me.
Desta vez eu seria o bully, se acontecesse alguma coisa ele iria pagar na mesma moeda, o meu plano de vingança passou à ação. Tinha acabado de preparar tudo quando a campainha tocou, olhei para as horas, faltavam vinte minutos, inspirei fundo e fui para a porta, espreitei e vi aquele cabelo loiro, era ele, abri. Estava com umas calças de ganga rasgadas e um polo azul justo, que deixava ver a sua musculatura por baixo, combinava com a cor dos seus olhos.
- Então bicha, com saudades minhas? – Questionou com um sorriso branco e irónico estampado no focinho.
- O que queres de mim? – Perguntei friamente. – Já não chega o que me fizeram naquele dia? – Relembrei tudo, as lágrimas ameaçaram cair.
- Está calado! – Ordenou, as suas mãos tocaram-me no pescoço, estremeci.
- Espera, aqui não, vamos para o meu quarto e … - Fui interrompido.
- Afinal gostaste de receber cinco machos no cu. Eu sabia! – Enquanto ele falava, fui caminhando para o quarto, consciente do que poderia acontecer. Sentei-me na cama, ele entrou.
- Mas o que vieste aqui fazer? – Quis saber, temendo a resposta.
- Não é óbvio? Preciso de descomprimir um bocado e quero enfiar a minha cobra no teu cu! – Fiquei com medo, mas segui com o plano.
- Eu não quero nada contigo, vai-te embora, por favor. – Implorei.
- Já te violei uma vez, portanto só tens duas opções, ou me deixas foder-te a bem ou a mal. Porque vai acontecer! – Ele tinha confessado, era tudo o que precisava.
Fiquei quieto sem me mexer, ele aproximou-se e arrancou-me a roupa, estava totalmente nu, as lágrimas começaram a cair, olhou para mim e mandou-me parar, disse que daquela vez seria prazeroso, pedi para terminar com aquilo mas em vão, senti o seu toque, as suas mãos percorreram-me as pernas, depois subiu até aos mamilos e apertou-mos, despiu-se, a sua barba loira de três dias, parecida com a de Jack, tocou-me no pescoço, senti os seus dentes a morderem-me, aquilo ia deixar marca, no entanto em vez de sentir prazer surgiu nojo, ele era horrível, os seus músculos roçavam no meu corpo, ele tinha um bom físico, isso não podia negar. 
- É agora! Se relaxares é mais fácil … - Disse ele colocando-me na posição de frango assado. Foi enfiando lentamente, até o sentir totalmente encostado a mim. – Geme! – ordenou. 
Não sentia nada, mas obedeci com medo do que pudesse acontecer, ficámos uns dez minutos até que o pior aconteceu, ouvi a voz do Jack.
- Que merda é esta? – Gritou ele.
- Estamos a divertirmo-nos! Queres juntar-te à festa? – Perguntou o Frank enquanto continuava a penetrar-me.
- És um cabrão David! A fazeres-te de coitado e agora estás aí a ser fudido. – Insultou-me, não consegui dizer nada.
O Frank saiu de dentro de mim, vestiu-se e saiu, ainda me convidou para aparecer na festa que iria dar naquela noite, mas ignorei, enquanto isso o Jack ficava ali a olhar para mim, parecia magoado, não entendia o porquê, ele não sentia nada por mim, vesti-me, sentei-me na cama e mantive o olhar baixo, sem dizer uma única palavra.
- Não me vais dizer nada? – Questionou. Não lhe queria contar a verdade, podia mostrar a mensagem, mas não o iria fazer. – Foda-se David! Diz qualquer merda, explica-me o que aconteceu aqui. – Pediu exaltado.
- Eu … eu … - Comecei a chorar arrependido, arrastei-me até aos seus pés e pedi perdão.
- Não me toques, metes-me nojo! – Afirmou rudemente.
- Desculpa-me, por favor. – Pedi enquanto chorava, tentei tocar-lhe, mas empurrou-me para trás acabando por cair de costas no chão.
- Não me toques, foi um erro ajudar-te! – Não compreendia aquela atitude. – Adeus! – Despediu-se e saiu, batendo com a porta.
Enquanto as lagrimas caiam fui até ao móvel e retirei a máquina que tinha filmado tudo. Agora eu tinha as provas.


O dia
Sem pensar carreguei no gatilho e nada aconteceu novamente, irritado comecei a chorar, restavam apenas quatro alternativas, à terceira seria de vez, travei a respiração, olhei uma última vez para aquele espaço, preparava-me para disparar, quando ele gritou fazendo-me parar.
Olhei diretamente para os seus olhos cinza esverdeados, os meus encheram-se de lágrimas, bati com os joelhos no chão e fiquei quieto a soluçar, aproximou-se de mim lentamente, ajoelhou-se à minha frente e tirou-me a pistola das mãos, depois manteve-se calado a olhar para mim, baixei a cabeça e fitei o chão, não era capaz de o encarar. A sua mão tocou-me no queixo, pediu-me desculpa pela atitude que tinha tido e depois inesperadamente senti os seus lábios nos meus, o beijo que eu desejara por anos estava a acontecer naquele momento tão dramático, não compreendi e afastei-me.
- Jack … o que acabou de acontecer aqui? – Perguntei confuso.
- Somos os dois uns idiotas! Eu adoro-te, pensei que sentias o mesmo, mas depois do que vi ontem já não sei nada … - Admitiu ele. – E ver-te agora aqui com a arma apontada à cabeça pronto a disparar não aguentei.
- Aquilo de ontem não aconteceu porque quis, eu fiz aquilo para te salvar a vida, ele ameaçou-te. – Acabei por revelar tudo.
- Eu … eu … não sei bem o que dizer, empurrei-te, desculpa-me, fui um …- Não queria explicações por isso calei-o com um beijo.
Nesse momento o Frank entrou na sala aplaudindo, enquanto gritava “bravo” e se ria, agora seriamos a chacota da escola, a nossa vida iria transformar-se num inferno. Levantámo-nos e o Jack apontou-lhe a arma à cabeça, o espanto no rosto do Frank foi visível, implorei-lhe para baixar o revólver, mas não me deu ouvidos.
- E agora? - Fez uma pausa. - Quem é que se ri seu monte de merda?
- Achas mesmo que eu acredito que vais disparar contra mim e ser preso? Nunca! – Riu-se.
- Sabes que existem muitas maneiras de morrer socialmente, uma delas é acabar com o teu estatuto superior aqui dentro! – Lembrei eu. Ele continuava com o seu sorriso fingido. – Lembraste do que aconteceu ontem? Tenho uma gravação com tudo registado! - Anunciei eu, a surpresa no rosto de ambos foi imediata.
- Seu cabrãozinho manhoso! – Riu-se friamente o Frank.
- O que é que aconteceu ontem? – A Amy tinha entrado a desfilar nas suas roupas, atrás dela vinha a Beth, que quando me viu olhou para o chão. - Exigo saber! – Quando reparou na arma, assustou-se.
- Se és homem, luta sem armas. – Provocou Frank. O Jack passou-me a arma para as mãos e depois tudo aconteceu muito rápido.
Eles pegaram-se à porrada, não sabia o que fazer, vi o Jack a cuspir sangue, o Frank tinha a testa com um rasgão, estava aflito, de repente a Amy lançou-se para cima de mim e tentou retirar-me a arma que acabou por cair ao chão, tentou ir atrás dela, mas dei um pontapé no revólver que foi parar à outra ponta da sala, a Amy levantou-se e furiosa lançou as unhas à minha cara, puxei-lhe o cabelo, eu que era totalmente pacífico estava a lutar, ainda por cima com uma mulher. Enquanto me tentava desviar das mãos da maluca, prestava alguma atenção ao Jack, nesse momento o tempo parou com o som de um disparo.
A Beth tinha a arma nas mãos, estava a tremer, quando olhei para o Jack para ver se estava ferido, fiquei tranquilo ao vê-lo bem. A Amy caiu com os joelhos no chão, a sua respiração estava pesada, ela é que tinha sido atingida nas costas, o sangue manchava a sua camisola a uma grande velocidade.
- Ela obrigou-me a fazer tudo David! – Confessou Beth ainda em choque. – Desculpa! – Depois virou a arma contra si e disparou, mas nada aconteceu porque esta só tinha uma bala que por sorte ou azar, depende da perspetiva, já tinha sido utilizada. 
Começaram-se a aproximar professores, auxiliares, alunos, alguns ainda tentaram ajudar a Amy, mas era tarde demais, não resistiu ao ferimento. Momentos depois surgiu a polícia, que levou a Beth para a esquadra, eu e o Jack tivemos de ir também como testemunhas, no meio da confusão o Frank tinha desaparecido.
Horas depois saímos da polícia, a Beth iria ficar detida até julgamento, íamos em silêncio lado a lado quando senti a sua mão tocar na minha e os dedos a entrelaçarem-se, sorri e continuamos a caminhar até à paragem de autocarro mais próxima.
Recebi uma notificação, desbloqueei o telemóvel e fiquei incrédulo quando vi que era uma mensagem do Frank, “Desculpem todo o mal que vos fiz, sei que nunca terei o vosso perdão e compreendo, mas vou-me embora. Entendo caso queiras mostrar a gravação à polícia. Só te garanto que irei partir para sempre. Adeus”, mostrei-a ao Jack que me olhou nos olhos e beijou apaixonado.
- Sabes uma coisa David? – Perguntou ele olhando para o céu.
- Sei algumas sim. – Ri-me. – Agora depende do que queiras … 
- Sabes que te amo? – Questionou criando uma ligação entre os nossos olhos. Sorri e retribui com um beijo.

O que acharam da reviravolta? O que irá acontecer na próxima e última parte?

Diogo Pereira Mota

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