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Fragmentos de Vidas #19


Diogo Mota, vinte e um anos, o autor do blog agora numa versão mais nua. Um ano depois, uma entrevista sincera e sem medos. Um rapaz diferente que se encaixa no mundo à sua maneira e que tem um mundo próprio.

Entrevista realizada por Carolina Moreira

Playlist da entrevista:

Diz-me três medos …
Medo de répteis, (pensativo) de chumbar na faculdade e medo de não ser aceite para Erasmus.

Já viveste um grande amor?
Grande não! Mas já viveste um amor? Depende da perspetiva! Depende de que perspetiva? Do que defines por amor. Amor de casal … Não! Mas já estiveste apaixonado? Sim. Recentemente? Define recente. Menos de um ano … Apaixonado não! Neste momento estás apaixonado? Não!


Porquê o fascínio por Espanha?
As músicas, os livros, as séries, a língua, … Mas os livros não são iguais a outros livros do mundo, de outro país? O que tem Espanha de tão especial? Não sei, digamos que desde pequeno, mesmo pequeno, sempre vi séries em espanhol, a primeira série que eu me lembro de ver é o Doraemon, os meus bonecos favoritos, quando eu ia de férias para a minha avó, aquilo só dava em espanhol e não tinha legendas, eu sempre me lembro de perceber o que acontecia. Acho que é uma coisa que está cá dentro, que eu não sei bem explicar. Se não fosse português era espanhol!

Três coisas que queres fazer antes de morrer? 
Publicar um livro, viajar pelo mundo e … (Pensativo) casar. Casar? (Risos) Tu queres casar? (Risos) A tua reação foi linda! Sim. Porque queres casar agora? Cresci, tornei-me mais adulto, mas não é casar agora, é um dia. O que te fez crescer? A Faculdade. 


Porque criaste um blog? 
O outro foi criado porque queria falar de tretas, ser diferente, acabou por se tornar algo igual a tantos outros. Este anda ali no limbo, mas até ao momento nunca vi um blog com o núcleo de conteúdo que o “Diogo Pereira Mota” aborda. Este é um blog bidimensional, onde posso falar sobre coisas pessoais, mas também sobre coisas mais gerais. 

Porque mudaste o blog? 
Eu sempre quis, sempre, desde o inicio que o blog tivesse o meu nome, até mesmo o anterior, só que eu achei, posso mudar o link, mas não sei, aquele já não era bem a minha identidade, haviam muitos temas e assuntos no outro, este é mais restrito, é mais eu, sou eu sem filtros. A mudança no blog é sinónimo da mudança na tua vida? Digamos que sim, está mais limpo, objetivo, mais direto. Sentes-te mais tu neste blog? Sim, muito mais, sem medo de opiniões. Já não as tinha, agora ainda tenho menos.


Queres fazer Erasmus onde? 
Espanha. Porquê Espanha? Por causa do fascínio? É assim, quando eu estava no nono ano, sempre disse que não queria ir para a faculdade, no décimo segundo, quis ir para a faculdade, mas não sabia o que queria, portanto fui trabalhar, fiz uma pausa de dois anos, entrei na faculdade em setembro do ano passado, se era aquilo que eu queria, não sei, mas estou a gostar bastante do curso [História da Arte], mais até do que estava à espera. Eu sempre quis estudar fora, ter outras experiências, talvez seja também por ter a ver com o facto de ter colegas de Erasmus e de compreender a experiência deles, ver que é algo bastante bom. Um dos meus sonhos de pequeno era estudar num colégio interno, nunca aconteceu, talvez tenha a ver com o fenómeno Harry Potter. 

Estás assustado por ir sozinho? 
Sim e não. Sim, no sentido de não saber o que vai acontecer, onde posso ficar, como me vão receber. Não, porque eu quero muito. 

Existe algo que ficou por dizer a alguém? 
Neste momento não, simplesmente porque devia ter sido dito, mas já que não foi dito também não vale a pena, porque passou. 

Devem-te pedidos de desculpa? 
As desculpas não se pedem, evitam-se! Ou seja, tu também não deves pedir desculpa a ninguém? Mas eu peço, talvez até peça sem a outra pessoa ter razão ou sem eu ter motivos para.


Procuras o amor? 
Todos procuramos. Mas não procuro de uma forma necessitada, se surgir surgiu. Tu procuras ou esperas que o amor venha? Eu espero que ele venha. Neste momento, estou mais focado no possível Erasmus. Não quero criar mais ligações, detesto despedidas. E uma das piores coisas que me vai acontecer, se for de Erasmus, é ter saudades, palavra tão bela portuguesa. Mas terás de fazer despedidas de lá para cá! Eu sei e espero que aconteça muitas despedidas, significa que fiz amigos, mas neste momento estou mais preocupado com as pessoas de cá. Se tivesse uma namorada o meu foco estaria divido entre cá e lá. 

Consideraste alguém de mente aberta? 
Sim, claro, sem qualquer problema, por isso é que escrevo o que escrevo e vou onde vou. Estou-me a lixar para o que os outros pensam ou acham que sabem sobre mim. 

Onde te vês daqui a cinco anos? 
Estaria a acabar Mestrado, mais ou menos, e a ir para Doutoramento ou para trabalhar. Agora se é cá [Portugal], não sei, provavelmente não … Espanha? É possível! Ou então América Latina. 

A “OEO” continua a ser a música que define a tua vida? 
Não! Qual define a tua vida agora? Por acaso foi uma que estive a ouvir antes de vir para cá, chama-se “Volar”, é do Álvaro Soler e é espanhola. Porque é que essa música define a tua vida? Não é a vida, mas sim o momento, é voar sem receios.


És feliz?
Sim, mas com uma felicidade mais restrita. Como assim? Porque há pessoas que vêm e outras que vão.

Como foi a viagem a Londres?
A minha Londres! (Sorridente) Fiquei surpreendido porque eu não sou nenhum sabedor de inglês e estranhamente eu consegui safar-me. Estás orgulhoso de ti portanto? Muito! Consegui falar inglês e ainda dei indicações a um homem. Ele perguntou-me onde era Leicester Square, a praça do M&M’S World, eu estava em Oxford Street, e disse-lhe como é que ele ia lá ter, ele percebeu e eu fiquei muito feliz comigo. O primeiro dia foi horrível, só pensava “os carros estão a andar do outro lado, ainda vou ser atropelado.” e eu ia sendo mesmo atropelado, foi também para morrer porque eu fiquei super mal disposto com a viagem de avião, quase a vomitar, a sorte é que apareceu uma alma caridosa, o Vítor, que me foi buscar ao aeroporto, que é um amigo de uma amiga minha, porque ele também estava lá nessa altura, vinha uma pessoa no mesmo avião que eu, ele não se importou e deu-me boleia, foi muito simpático, não me conhecia de lado nenhum e deu-me boleia, é uma grande pessoa. Se eu não tivesse ido no carro dele, provavelmente tinha vomitado no autocarro. Mas o saldo final a viagem foi positivo? Sim, sem dúvida. Como foi ir ao mundo do Harry Potter? (Entusiasmado) Foi um sonho realizado, chorei tanto, parecia uma criança, acho que nesse dia chorei o que ainda não tinha chorado durante os livros e filmes, que já foi muito. Lembro-me de me agarrar ao poste da entrada a chorar, tudo bem (risos), bebi a Butterbeer e fiquei com o bigode da cerveja, é um dos sonhos de qualquer Potterhead. Espera tu bebeste cerveja? Calma, aquilo não tem álcool.

Sentes-te diferente desde que entraste na faculdade?
Sim! O que mudou em ti? (Pensativo) Dei-me a conhecer, e agora estou a conhecer pessoas fantásticas. Estou surpreendido porque as minhas notas na faculdade são melhores do que no secundário, eu acho isto incrível. O que é que a faculdade está a fazer por ti? Está a fazer-me crescer, a fazer-me querer ir para Erasmus, está-me a obrigar, indiretamente porque eu é que quero, a aprender uma língua nova. Trocarias de curso se pudesses? (Silêncio) Eu gosto do meu curso e só trocaria se fosse por Comunicação Social, mas possivelmente acabaria este e depois ia para o outro. Porquê Comunicação Social? Eu gosto do mundo da televisão, mas é por causa do fascínio por entrevistas, obter respostas a perguntas que às vezes são necessárias ao convidado.

Identificaste com os contos que escreves?
Todos ou os que estão agora no blog? Todos! Mais uns do que noutros, mas sim. Eu perguntei porque de momento só estão dois no blog e tu conheces mais. Existe sempre algo pode é não ser da forma direta, pode ser o facto de concordar com um ponto de vista. Portanto há sempre algo de ti em tudo o que escreves! Não, em tudo não, nos contos sim, mas naqueles textos que escrevo não há, eu meto a música a tocar e o que ela me transmitir eu escrevo. Qual a personagem que é mais parecida contigo? Ainda não está escrita!


Consideraste livre? 
Eu sou livre! 

O teu grupo de amigos continua igual? 
(Silêncio) Dizem que as amizades se renovam de sete em sete anos, consoante uma média, portanto a resposta é não. Está cada um a seguir a sua vida? Sim, cada um segue a sua vida, mas é possível cada um seguir a sua vida e manter o contacto, por outras vezes dizer adeus é o melhor. E estão todos em momentos iguais de vida? Não, depende dos amigos, são fases. 

Quais as maiores diferenças desde a última entrevista? 
Entrei na universidade, fui a Londres, estou a aprender uma língua nova, quero fazer Erasmus, restringi pessoas e digamos que num ano tornei-me numa pessoa mais livre, vou viver, vou aproveitar, porque o momento é agora. 

Quando te olhas ao espelho vês quem gostarias de ser? 
A nível psicológico estou a construir-me, o puzzle está a encaixar-se, a nível físico, tudo pode mudar, basta querer.


Do que andas à procura? 
Neste momento procuro criatividade. 

Mudarias por alguém? 
Não! Se quiseres respondo o que disse há um ano … 

Continuas sem acreditar em Deus? 
Sim, não tenho motivos para acreditar. Mantenho aquela opinião que é, existe algo superior a mim, não sei é o quê. 

E no destino acreditas? 
Q.B. (Risos) O que é o destino para ti? Aquilo que é suposto ir acontecer. Um exemplo, há três opções e tu guias a tua vida para uma delas, porque se isto já tivesse tudo feito era uma grande merda.


Continuas um enigma difícil de decifrar? 
Para algumas pessoas não tanto, para outras tornei-me um enigma ainda maior. 

Preocupas-te mais com o que os teus amigos pensam ou com o que os desconhecidos pensam? 
Com o que os desconhecidos pensam de mim não me preocupo nada, com o que os amigos pensam de mim também não me preocupo porque se são meus amigos têm de gostar de mim como sou, fico à borda do prato como certas pessoas ficaram … Preocupo-me mais com os conhecidos, este podem ser lixados … 

Alguém te conhece de verdade? 
Não! Alguém está perto de lá chegar? Sim … Porque não deixas que te conheçam a 100%? Porque eu não sou de dar respostas, mas sim de fazer perguntas. 

Quais são os três valores mais importantes para ti? 
Lealdade, confiança e honestidade.


Se as pessoas falharem com esses valores perdoas? 
Depende da pessoa … 

O que mudarias na sociedade? 
Tanta coisa … Para começar, eu sou apologista da igualdade de sexos, acabava com o machismo, irrita-me solenemente, mulheres ao poder, a maioria dos homens não vale nada, a mulher é mais objetiva, consegue focar-se no que é preciso e necessário fazer num país. Uma mulher como primeira-ministra! Achas que faria diferença no país onde vive? Lá está mentalidades, era uma das primeiras coisas que eu faria. Achas possível uma mulher chegar ao poder? Eu espero bem que sim! Eu apoio. Mais coisas? Direito à educação livre e gratuita, mesmo na universidade. Um povo culto é muito mais importante para construir e levar um país para a frente. Mudava também o sistema de Saúde deste país que é uma desgraça, é lento, um atraso. 

O que pensas do feminismo? 
Depende! Eu apoio o feminismo no sentido de igualdade de géneros, não apoio o feminismo radical. Embora que ache que as mulheres deviam ganhar muito mais que os homens, vocês fazem muito mais que um homem. 

Qual o momento mais triste e o momento mais feliz da tua vida até agora? 
Triste posso responder a morte dos meus cães. (Emocionado) Feliz tenho dois momentos que se fundem num só, os mais atuais são as duas saídas à noite de sexta-feira porque … (muito emocionado) foram precisas coisas para provar quem lá estava.


Consideraste extrovertido ou introvertido? 
Depende das pessoas ou do local, depende da confiança. 

O que estás a pensar neste momento? 
Talvez fosse necessário esta conversa há mais tempo. 

Tens os amigos que precisas ou os que queres? 
Uma mistura dos dois … Tenho os que preciso, poderia ter mais, mas amigos não é o mesmo que conhecidos e os amigos parecendo que não, num ano, muito muda.


O que menos e mais gostas em ti? 
Fisicamente gosto dos meus olhos e o que menos gosto são os pés. Psicologicamente gosto muito da minha criatividade, às vezes até me surpreendo com as coisas que eu escrevo, e o que gosto menos é, não de forma propositada, mas sei que às vezes sou demasiado frio para as pessoas e não devia ser tanto, embora algumas mereçam. 

És filho único. Seria diferente se tivesses irmãos? 
Agora vou dizer uma cena muito macabra, quando era pequeno dizia “eu não quero um irmão, eu meto-o no micro-ondas a assar”, hoje vejo que ter um irmão seria bom. Possivelmente teria de partilhar o quarto, mas não sei, é aquela questão de estar sempre lá alguém. Serias uma pessoa diferença? Não sei, adorava ter um gémeo, mas seria insuportável de aturar outro igual a mim (risos). 

Quando tiveres filhos irás querer só um? 
Não, no mínimo quero três filhos biológicos, mais um ou dois adotados. 

Eras capaz de matar? 
Sim, era! Em que sentido? Proteger alguém ou algo. Há pessoas por quem mataria, sem dúvida.


Já desafiaste a lei alguma vez? 
Não! Eu sou demasiado certinho, sou um anjo. 

Quem seria o/a companheiro/a ideal para assaltar um banco? 
Carolina Moreira e Tatiana Bartolomeu. (Risos) Vou-te explicar porquê … Somos astutos, enquanto eu arrombava os cofres e a Tatiana preparava os sacos, a Carolina seduzia os guardas, portanto seria um golpe perfeito, saíamos de lá sem ninguém perceber. 

Tens um modelo a seguir? 
Acho que não … 

Se pudesses fazer um dueto com qualquer artista, quem seria? 
Eu canto muito mal (risos), mas se fosse mulher seria Jennifer Lopez ou a Beyoncé, estou aqui numa indecisão, se fosse um homem seria o Sebastian Yatra, o Álvaro Soler, o David Carreira ou o Maluma.


O que pensas sobre o aborto? 
Por mim … O corpo é da mulher, a vida é dela e as decisões são dela … Mas envolve outra pessoa! Envolve outra pessoa, mas a mulher quer, a mulher faz, o homem não tem direito a decidir sobre o corpo da mulher, mesmo que ele queira muito ser pai, se ela não quer, é não, ponto final. Ela é que decide e ninguém tem nada a ver com isso. 

Sentes que és forte ou fraco? 
Faço-me de forte, mas sou fraco … 

Qual o filme que nunca te cansas de ver, sem ser Harry Potter? 
(Risos) Titanic. Porquê? Porque é bonito e já deu há não sei quantos milénios (risos), mesmo que tenha quatro horas uma pessoa vê e volta a ver, e sente. E sempre tenho a esperança que ele consiga subir para a tábua. 

Qual é o teu presente ideal?
Depende da pessoa … Um presente excêntrico? Uma viagem a qualquer lugar do mundo ou um meet & greet com alguém que eu goste muito. Feito por alguém? Sinceramente não sei, fotos, textos e cenas assim. Um presente normal? Livros, eu respiro livros, não me ofereçam é livros de histórias reais, eu não gosto. Pode ser qualquer livro ficcional de qualquer género.


Raparigas com ou sem maquilhagem? 
Os dois, porque dá para fazer visualização com e sem máscara. Loiras, morenas ou ruivas? Qualquer coisa menos loiras, não gosto. Cabelo liso ou ondulado? É indiferente. Olhos verdes, azuis ou castanhos? Cinza! 

O acidente de carro deixou-te sequelas? 
Não me deixou sequelas no sentido físico, só acho que perdi um pouco da noção de distância quando estou no carro, eu não bato, antes conduzia o mais à direita possível e agora tento sempre conduzir o mais próximo possível ao eixo da via porque a perceção de espaço para a direita não é tão grande. Durante o acidente alguma vez te surgiu o pensamento, “eu vou morrer”? Não, nem houve tempo. Mas eu não me lembro de muito, a minha memória apagou parte do que aconteceu. 

O que quer o teu coração? 
Quer desligar-se de pessoas que me ignoram, quer vibrar com o possível Erasmus, quero ter positiva a tudo, quero um semestre calmo e pacífico.


Termina assim a primeira entrevista da Terceira Temporada, espero que tenham gostado e não percam a próxima brevemente ...

Diogo Pereira Mota

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