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Fragmentos de Vidas #23


José Daniel Camillo, mais conhecido por Daniel, quarenta e oito anos, é um artista de música sertaneja e também ator. Com trinta anos de carreira e mais de quinze discos editados, Daniel é um fenómeno internacional.
Descobre mais sobre ele nestes fragmentos de vidas ...


Daniel é o seu último álbum! O que mudou desde o Daniel de 1998 (Primeiro álbum)?
Muita coisa, principalmente nesse primeiro eu estava recomeçando uma história depois de ter perdido o meu parceiro. Nós tínhamos uma carreira trilhada já por muitos anos, eu e o saudoso João Paulo, hoje já são vinte anos de carreira a solo e vinte anos de ausência dele. De lá para cá muita coisa mudou, muitas transições, muitas tendências chegaram e foram embora, outras ficaram, eu vejo essa questão da consciência das coisas ainda maior, um amadurecimento que vai chegando naturalmente com o passar do tempo, a dedicação ao trabalho que a gente sempre teve, cada vez mais aumentando, com a consciência que a minha carreira é uma missão assim que eu tenho perante as pessoas e poder trazer algo de útil para elas através da música, me deparo com muitas histórias de vida que são os combustíveis que a gente encontra pela frente, de que realmente a nossa música causou alguma coisa em alguém, trouxe algo de somatório na vida de alguém e isso não tem preço, e essa questão das tendências mundiais mesmo, a questão tecnológica que a gente vê, essas transformações todas que eu também estou me moldando a isso, eu venho de uma era analógica e hoje o digital tomando conta, então é você se deparar com muitas situações diferentes no decorrer de uma história que você não pode mudar, não pode perder a essência, a sua verdade, o seu jeito, enfim … Estar atento a todas as tendências atuais, ao mesmo tempo, é bem louco, o mercado totalmente diferente, a forma de você expôr a sua música, o seu trabalho também mudou de lá para cá, mudou demais, a agilidade que a gente tem com as coisas hoje, essa questão tecnológica nos traz isso, mas ao mesmo tempo existem muitas coisas ficando para trás, você já não tem mais aquela coisa tão palpável, daqui a pouco não está existindo mais o CD ou o DVD, isso para mim é muito louco, gera uma loucura na cabeça, o facto de você não ter a obra ali para ver quem participou, para ver quem foram os músicos, os compositores, enfim, tudo isso me deixa muito aflito porque parece que as coisas estão ficando muito próximas com a questão tecnológica, mas ao mesmo tempo distantes porque a gente lida com essa coisa do contacto com o público, de um autógrafo, … Como vai ser um autógrafo daqui a um tempo? Hoje o selfie está tomando conta, nos shows que a gente faz, quando a gente faz uma coisa mais intimista, os selfies prevalecem muitas vezes do que uma boa interpretação de uma canção, é tudo muito louco, é se moldar a isso e se manter com a mesma essência e com o mesmo entusiasmo, a mesma paixão, o mesmo amor de fazer música, de estar cantando.


E porquê apostar em Portugal para difundir a sua música, tem a ver com o facto da sua família materna ser de origem portuguesa? 
Olha a gente na verdade, isso para mim, no passado não era uma coisa próxima e hoje não sei se com o passar do tempo as coisas foram mudando, o time com as coisas hoje é totalmente diferente, a gente se dedicava demais ao mercado brasileiro, eu vivia numa corrida de tempo, de compromissos e que não nos permitia ter esse espaço que tempo que nos permitia vir para cá, como eu estou tendo hoje, para apresentar shows e conciliar agenda, de estar fazendo um trabalho de perto, acho que um dos motivos é esse, o outro é a vontade de fazer algo diferente, inovador, enfrentar um grande desafio, esse é um grande desafio, recomeçar a sua história num lugar diferente, mostrar a sua música para pessoas que nunca tiveram acesso, acho que é um pouco isso, você pisar um novo terreno, para fazer parte da vida de outras pessoas, são os desafios que a vida vai oferecendo, que vão surgindo no decorrer do tempo.


O que espera dos três espetáculos que dará cá (1, 3 e 4 de maio, no Coliseu do Porto, Casino da Figueira e Coliseu de Lisboa)
Olha espero que dê muito certo assim, espero que a minha música possa fazer bem para alguém, me deparar com um público legal, que a gente consiga deixar uma mensagem legal, que eu consiga plantar essa semente, já que é a primeira vez que eu venho com show, com três agora, não conheço grande parte dos locais onde vou estar, ou seja, é a primeira vez que vou para o Porto, nunca fui, não conheço Figueira da Foz, conheço a região porque nós temos esse elo familiar com Praia de Mira é a terra dos meus bisavós, da minha avó materna, eu já tive a honra de conhecer e tudo mais, é um desafio, outro desafio, é pisar nesses palcos que são diferentes para mim, que são lugares de referência, realmente é uma grande responsabilidade, tomara que a gente consiga atingir as espectativas e deixar essa semente plantada aqui em Portugal.


Qual é a diferença entre o cantor Daniel e a pessoa José Daniel? 
Eu vejo diferença e ao mesmo tempo é a mesma pessoa, não tem como mudar, tanto que eu sou o que eu sou no meu dia a dia estando em cima do palco, não estando em cima de um palco, lidando com a minha carreira, com a minha vida artística, a minha música ou não, dentro de casa eu sou essa mesma pessoa, existe diferenças porque em cima de um palco você está ali para um compromisso diferente, com o seu público, as responsabilidades dentro de casa junto da família são outras, mas a pessoa, a essência se mantém a mesma, o mesmo cara, o mesmo jeito, a mesma forma de lidar com as pessoas e o público, com tudo, não vejo diferença. Eu consegui inclusive, através da minha carreira, me mostrar para as pessoas, mostrar o José Daniel, como eu sou, da espontaneidade, da verdade, não tem como você desvincular as coisas, eu não consigo separar. 

Em trinta anos de carreira, qual a pior parte da fama? 
Olha, para mim o que mais pesa, eu tive a oportunidade de trazer as meninas e a minha esposa, talvez se elas não estivessem aqui, talvez o que mais pesa para mim pelo trabalho que eu realizo na verdade, não a fama em si, é o facto de estar longe de casa, da família, das pessoas que você gosta, de você ter o seu dia a dia, não ter dia, não ter hora para as coisas às vezes, é o que mais pesa, fora isso o facto de ter tido o trabalho reconhecido, de ser uma pessoa exposta ao público não me afeta em nada, eu levo numa boa, não deixei de fazer nada daquilo que eu sempre fiz ao longo da minha vida, no passado, realizo até hoje, os amigos não ficaram para trás, a mesma legião de amigos, eu ainda tenho, eu ainda cultivo isso, eu não sinto falta de outra coisa, não me privo de nada, levo uma vida normal como todo o mundo, a única coisa que me faz sofrer é a ausência de casa. A vontade às vezes de estar em casa e de não poder, devido à minha vida fora de casa que é a música.


Como foi ganhar um Grammy Latino em 2009? 
Nossa, foi um super presente e num projeto que para mim é mais do que especial, o Menino da Porteira, foi uma das canções que eu aprendi a tocar na minha vida, eu era muito pequenininho, tinha cinco, seis anos de idade e aí depois ter sido convidado pelo diretor para poder participar no remake, de fazer aquele personagem, aquele boiadeiro, e tudo como aconteceu, sabe a maioria das filmagens feitas na minha terra natal, em lugares que eu sempre convivi, foi uma coisa muito forte para mim e depois com o cuidado que a gente sempre teve com o repertório, com esse toque diferente que a gente colocou, a gente conseguir ali o Grammy Latino, foi um dos maiores presentes que eu recebi ao longo desses trinta anos de carreira, realmente é muito prazeroso ter um prémio desses para somar a uma carreira de trinta e poucos anos.


O vídeo oficial de Inevitavelmente ultrapassou 1 milhão de visualizações no YouTube em apenas duas semanas! O que sente ao atingir esta marca? 
Perante um cenário com tantas informações, como estava dizendo, com tanta gente boa, com tantas músicas legais, tanta coisa acontecendo junta é realmente uma grande marca, os seguidores hoje através das nossas redes socias que aumentaram, tudo isso nos trás uma alegria porque é o fruto de um trabalho seu, fizemos o clipe com muito carinho, inclusive tem algumas canções que a gente lançou na internet que a gente lançou aqui em Portugal, que estão indo super bem nesse novo projeto, desse CD de canções inéditas, a gente vê aí os dowloads, as pessoas curtindo e acessando, esse são os troféus que a gente vai recebendo, são os combustíveis que a gente vai adquirindo para continuar fazendo legal, continuar com inspiração, fazer a diferença, para responder para eles de forma legal, eficaz, conseguir sempre produzir uma música de uma forma legal para eles curtirem com qualidade.


O que vai acontecer em parceria com o Ricardo Landum? 
Eu já conhecia a obra dele, algumas coisas, conheci o trabalho dele inclusive com o Tony Carreira e tive a honra de conhecê-lo pessoalmente, acredito que aí surgiu talvez, está surgindo, na verdade, uma história. Encontrar um cara que consegue colocar no papel tantas ideias legais, tantas histórias de amor, e eu como cantor, como intérprete, encontrar um bom compositor assim, ter um elo de ligação com ele, realmente é um prazer enorme, conversámos muito da possibilidade dele conhecer o Brasil, conhecer um pouco aquela terra, de a gente fazer alguma coisa juntos, enfim, eu acredito que num futuro próximo e próspero a gente possa trazer uma história juntos, uma canção para de repente homenagear o meu público e poder fazer do trabalho dele parte da minha história, para a gente estreitar ainda mais esse laço que existe entre Portugal e Brasil, de tudo o que está acontecendo.


Vai ter agora a Tour Europa 2017. Quais os planos para o futuro? 
A gente faz aqui, depois vamos para a Bélgica, vou fazer Inglaterra e França. O meu projeto é voltar para o Brasil com shows, inclusive esse ano vamos estar participando num evento muito legal na Aparecida, eu participei o ano passado cantando com Andrea Bocelli, este ano são os trezentos anos da aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida, do qual eu sou devoto, em outubro eu vou estar participando de um evento e possivelmente eu realizarei um projeto de um DVD diferente, que a gente possa trazer para o público que me acompanha, é um projeto que ainda está em andamento, mas quase de certeza com a participação de alguns padres, meio que um evento de orações, de mensagens e que vai ser muito diferente para mim. Eu sempre recebo muitos convites de padres para participar em projetos com eles e eu pensei porque não convidá-los para participar de um projeto comigo, é bem possível que a gente realize esse projeto voltando para o Brasil.


O que quer o seu coração? 
Eu quero ver as pessoas felizes, eu quero poder ver essa tão sonhada igualdade entre os povos, entre as pessoas, ver um Brasil melhor, nós que estamos passando, vocês que também passaram por um momento complicadíssimo e estão dando a volta por cima, eu quero ver a felicidade daquele que está ao meu redor, senão nada tem sentido, se as pessoas não estão bem como você está bem, não tem graça, não tem razão de ser, é isso que eu quero e quero continuar contagiando as pessoas através da minha música, continuar a ser instrumento de paz e felicidade através da minha música.


Agradeço ao Daniel por no seu tempo livre ter-se disposto a responder às minhas perguntas e à Universal Music Portugal pela oportunidade.

Fotografia: Sofia Silva

Diogo Pereira Mota

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