Pages

08. Marc

De: Marc (Eu)
Para: Desconhecido
Assunto: Ajuste de Contas!

Vais pagar por tudo o que fizeste! Eu vou descobrir quem és e depois vamos ajustar contas. 
------ 

Já tinha feito algumas chamadas para a Kate, todas sem resposta, desisti de tentar e olhei para a minha casa vazia, sem ninguém, sem ruídos, só eu no meio do nada. Tinha de sair dali, tinha de enfrentar o medo, as lágrimas corriam-me pelo rosto enquanto procurava um táxi que me levasse ao hospital. Depois de descobrir um, demorei vinte minutos até lá, a estrada estava vazia, o que fez com que chegasse rapidamente. 
Paguei a minha conta e corri para o interior, cheguei à receção e perguntei pelo meu irmão, ao telefone não me tinham explicado bem o que era, só tinham pedido para me dirigir o mais rapidamente para ali porque era grave. A rececionista pediu para me acalmar, mas tal era impossível o meu irmão podia estar em risco de vida. 
Implorei para que me deixassem vê-lo. Sendo a única pessoa que me conhece por completo não o podia deixar sozinho, eu tinha de conseguir estar com ele. 
A médica que estava a tomar conta do meu irmão apareceu e eu expliquei-lhe a situação toda, éramos só nós os dois, um para o outro visto que os nossos pais estavam mortos. Sensibilizada deixou-me entrar mas teria de ser rapidamente, porque tal era proibido. 
Entrei no quarto e encaminhei-me para o pé da cama, quando olhei para ele fiquei assustado, Henri estava coberto de ligaduras, a única parte do corpo parcialmente descoberta era a cara, ou melhor, os olhos, o nariz e a boca, de resto todo o corpo parecia mumificado, para além disso estava em coma, só se ouvia o apito do aparelho do ritmo cardíaco. 
- Mas ... mas o que aconteceu? - Questionei chocado com o que via. 
- Foi uma explosão! O seu irmão estava acompanhado pelos amigos quando tudo ocorreu. Henri foi o único que sofreu ferimentos críticos, porque era o que se encontrava mais perto do carro, os restantes elementos estavam mais longe. Pelos relatos ele tinha ido buscar o carro ao parque de estacionamento. - Explicou a médica calmamente. 
- Mas como é que o carro explodiu? - Perguntei, enquanto as lágrimas me desfocavam a visão. 
- Pelo que percebi, o carro explodiu quando o seu irmão acionou o trinco, mas a polícia já está a investigar as causas. 
O trinco do carro, tecnologia portanto, fácil para o juiz conseguir trabalhar. Esta pessoa seja ela quem for, não se vai ficar a rir com o que aconteceu, ele iria pagar pelo que fez, a dor do Henri iria ser vingada. 
- Como é que ele está? Vai sobreviver? 
- O prognóstico é ainda muito reservado, como vê o seu irmão encontra-se ligado às máquinas, as próximas horas serão decisivas. Mas agora terá de sair, já o deixei ver. - Pediu ela. 
Aceitei e junto a ela dirigi-me para a saída, quando alcancei a porta ouvi a voz dele a chamar-me. Corri para junto do meu irmão e pedi-lhe para se acalmar e não se cansar. A médica foi chamar a restante equipa para fazerem as análises e verem como ele estava, deixando-me ali a pedido do meu irmão. 
- Mano, como estás? - Perguntei preocupado. 
- Cansado e tenho sede. - A sua voz estava diferente, mais baixa e arrastada, sem vida. 
- Lembraste do que aconteceu? 
- Mais ou menos ... lembro-me de chegar ao carro ... receber uma mensagem a dizer "BUM" e ... e depois abrir o carro e ... e não me lembro de mais nada ... - Respondeu ele calmamente. 
- Deixa estar, agora não interessa. Descansa. - Sugeri. 
- Podes por música por favor? - Pediu ele com a voz cansada. 
Tirei o telemóvel do bolso e abri na pasta das músicas, carreguei no play e começou a tocar o "See You Again". 
- Essa é boa, deixa ficar. Gosto dela! - Disse ele sussurrando. 
Coloquei levemente a mão por cima da dele, a ligadura estava entre as nossas peles a cicatrizar a dele. Era uma imagem terrível para se ter, a única pessoa que merecia algo assim era o juiz, a respiração do Henri estava mais pesada, notava-se que lhe custava respirar sem auxílio. 
- Quero que me ouças até ao fim e não me interrompas, está bem? - Perguntou ele. 
- Sim claro. - Respondi imediatamente. - Diz? 
- Já tens idade suficiente para conseguires criar a tua vida sozinho, tens uma casa, a herança dos nossos pais e os valores que te dei ... 
- Henri, por favor ... - Interrompi-o a chorar. 
- Deixa-me continuar. - Disse ele. - Não acredito que dure muito mais tempo, sinto-me esquisito, a respiração é complicada ... Quando chegares a casa quero ... quero que vás ao meu quarto e ... e que abras uma caixa que está guardada debaixo da cama ... depois faz ... faz o que lá tiver escrito, por favor não te esqueças. Desculpa tudo o que te disse sobre a Kate ... se é dela que gostas, luta com todas as tuas forças e não desistas dela, mas se for outra rapariga qualquer só quero ... que sejas feliz. Sabes que gosto muito de ti ... és ... és o meu maninho ... estarei ... estarei contigo sempre ... no teu coração ... - Imediatamente as máquinas começaram a apitar, o aparelho do ritmo cardíaco estava numa linha reta, o coração dele estava a parar. Enquanto isso a música tocava pelo telemóvel. 
- Henri? Henri? - Gritava enquanto chorava. - Estarás sempre comigo! Nunca me vou esquecer de ti. - Agarrei-lhe a mão com força. - Enfermeira, enfermeira, ajudem-me. - Gritava virado para a porta. 
Nesse instante entrou a equipa médica do meu irmão, as máquinas continuavam a apitar, um dos médicos agarrou-me e levou-me para o lado de fora do quarto, comigo trouxe o telemóvel. 
Estava com uma dor de cabeça gigante, a música continuava a tocar e foi nesse momento que recebi uma mensagem. 

------ 
De: Desconhecido 
Para: Marc (Eu) 
Assunto: Quem ri por último, ri melhor! 

OPS ... Parece que o coração de alguém não aguentou. Eu avisei que devias ter seguido as minhas ordens. Espero que agora sejas um menino certinho. Os meus sentimentos pelo teu irmão. 

O Juiz.

Diogo Pereira Mota

Sem comentários:

Enviar um comentário