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Russian Roulette: Parte 01

Conhece mais sobre este conto em Russian Roulette.
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Saberá o louco que está louco? Ou os loucos são os outros, que se empenham em convencê-lo da sua insanidade para salvaguardarem a sua existência de quimeras?

ZAFÓN, Carlos Ruiz - A Sombra do Vento.

O dia
Após três anos a sofrer diariamente naquela escola vítima de maus tratos, todos os insultos que ouvi, as dores que senti, socos, pontapés, puxões de cabelos, decidi pegar na arma que é do meu pai, comprou-a depois da morte da minha mãe, nunca percebi porquê, talvez também se quisesse matar, a minha vontade de viver tinha chegado ao fim. Não aguentava mais aquele ambiente das trevas, o meu castigo final tinha chegado. 
Beijei a bala e coloquei-a num dos seis buracos do revólver, fechei o tambor e girei, encostei-o à têmpora direita, olhei pela última vez em redor, ouvi o silêncio, seria irónico ser encontrado morto na sala de aulas onde já tinha sido agredido por cinco rapazes, claramente fizeram-no com toda a justiça, eu mereço sofrer, sou um erro genético, uma monstruosidade. Fechei os olhos, inspirei fundo, interroguei-me se seria logo à primeira ou teria de disparar várias vezes até encontrar a bala, disparei, nada aconteceu, azar no jogo e no amor, na segunda acertaria, pensei na minha família, o meu pai não merecia um filho assim, um guerreiro como ele devia poder orgulhar-se mas tal era impossível, recordei aquela que pensava ser minha amiga, uma manipuladora brilhante, por fim cheguei à conclusão que ninguém precisava de mim, todos iriam ultrapassar a minha morte. Sem pensar carreguei no gatilho e nada aconteceu novamente, irritado comecei a chorar, restavam apenas quatro alternativas, à terceira seria de vez, travei a respiração, olhei uma última vez para aquele espaço, preparava-me para disparar, quando ele gritou fazendo-me parar. 


Seis dias antes
O verdadeiro inferno começou neste dia …
A aula de Filosofia tinha acabado, encontrava-me sozinho na sala, a Amy, minha única amiga, estava com febre e tinha faltado. Nunca compreendi como ficámos amigos, ela é popular, faz parte da claque da escola e namora com o nojento do Frank, jogador da equipa que tanto orgulha esta instituição de ensino e líder do grupo que me maltrata constantemente, eu pelo contrário sou uma pequena formiga no meio desta gente que faz parte do grupo de leituras.
Peguei na mochila e dirigi-me para o encontro de geeks, ficava na cave da escola, na ala este, o único local onde tinha alguma paz. Pelo caminho cruzei-me com o Deus Jack, também pertencia à equipa da escola, o seu cabelo ruivo meio despenteado conjugado com aqueles olhos cinza esverdeados que culminavam numa barba, também ela ruiva, de três dias, era um pecado autêntico. Já o tinha ajudado algumas vezes na biblioteca para trabalhos de literatura, era muito simpático comigo, mal me viu esboçou um sorriso, os seus dentes brancos perfeitos fizeram-me sorrir timidamente de volta. 
Depois de receber a nota de um dos trabalhos obrigou-me a ir com ele a um restaurante almoçar, pagou tudo, embora eu não quisesse ele insistiu e disse que era justo depois de tudo o que fizera por ele. Passou todo o almoço a conversar comigo, olhando-me diretamente nos olhos, eu mal falei, estava enfeitiçado.
Ia a caminho da cave quando ele me chamou e perguntou se eu o poderia ajudar num novo trabalho, naquele dia mais tarde. Eu aceitei, combinámos na cave, agradeceu e correu para a sala, já estava atrasado. Aquele momento despertou memórias de um dos treinos da equipa que fui obrigado a assistir durante uma aula de educação física, ele a correr sem camisola com o seu corpo transpirado e trabalhado, mas nada excessivo, com peitoral, abdominais e um V que me deixava sem ar.
No grupo de leituras, depois de cada um dar a sua opinião sobre o livro dessa semana e discutirmos pontos de vista, decidimos escolher que para a próxima semana iriamos ler “A Arte da Guerra” de Sun Tzu.
Olhei para as horas, faltava uma hora e meia para o Jack chegar, sentei-me num dos sofás, peguei no telemóvel e entrei nas redes sociais. Passados nem dez minutos ouço a voz do Frank e do seu grupo à porta da sala, quando este me viu fez um sorriso cínico e entraram, mandou um deles trancar a porta e fechar as cortinas. O medo apoderou-se de mim, não sabia o que me iriam fazer.
- Então bicha, já te enfiaram a picha no cu hoje? – Perguntou o Frank aproximando-se de mim, o riso foi geral. – Agarrem-no! – Ordenou aos outros.
- O que vão fazer? – Questionei afastando-me cheio de medo. Agarraram-me e eu gritei. – Larguem-me por favor, eu não vos fiz nada … - Fui calado com um murro de um deles, senti o sabor a sangue e o nariz a arder.
- Cala-te ou apanhas mais! – Ameaçou Frank. – Se gritares, levas nos cornos. Estás a ouvir? – Interrogou sussurrando-me ao ouvido.
Apenas afirmei com a cabeça, depois tudo aconteceu. Senti as suas mãos na minha cintura, desceram-me as calças e as cuecas, ouvi o Frank a abrir o cinto das suas calças, depois senti uma dor insuportável, queria gritar mas não podia, tinha medo de ser agredido, as lágrimas corriam-me pelo rosto, à minha frente um mandou-me abrir a boca e enfiou o seu pénis, puxando-me o cabelo. O Frank veio-se dentro de mim, de seguida outro ocupou o seu lugar.
- Vais ser usada por todos nesta sala. – Ao ouvir aquilo, chorei ainda mais. - Uma puta como tu merece o cu bem arrombado!
Um deles rasgou-me a camisola, o Frank expulsou o outro da minha boca e ocupou ele o lugar, enfiou até ao fundo, senti vontade de vomitar, faltou-me o ar. Ao mesmo tempo senti um terceiro elemento atrás de mim, eu não ia sobreviver, quando enfiou a dor aumentou ainda mais.
Uma hora depois de trocarem de lugares, decidiram ir-se embora, mas antes ainda prometeram que voltaria a haver uma próxima vez, fiquei nu no chão. Ouvi-os a afastarem-se, uma dor gigantesca percorria o meu corpo, quando olhei para as minhas pernas reparei que estavam cheias de sangue, queria mexer-me, mas não conseguia.
Ouvi passos a aproximarem-se, tentei sair dali, mas a dor era muito forte, esperei que não reparassem em mim. Por obra do destino quem apareceu foi o Jack que mal me viu no chão fechou a porta e correu para junto de mim, abracei-me a ele a chorar, estava nu, mas já não importava, eu era lixo.

O que acharam desta parte? O que esperam para a segunda?

Diogo Pereira Mota

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